As greves na F1

Como já havia acontecido antes da corrida de abertura da temporada de 2011 na Austrália, Sebastian Vettel voltou a criticar mudanças nas regras da Fórmula 1 na Malásia e cobrou da FIA melhoras nas condições de segurança dos pilotos.

Em longa entrevista à mídia alemã, o campeão mundial admitiu que a greve dos pilotos será a maneira de protestar contra as tremerárias inovações introduzidas no regulamento da categoria neste 2011.

“A nossa posição terá de ser ouvida antes da situação piorar e se tornar perigosa, para não apelarmos ao extremo da greve” declarou Vettel.

Os pontos que o campeão mais criticou no novo regulamento foram a introdução da asa móvel traseira, a volta do Kers e o excesso de botões de controle no volante. O alemão da Red Bull insiste que essa situação preocupa os pilotos pela exigência de se manterem de olho nos controles sem tempo para observar a pista a 300 km/h.

Caso não haja acordo entre a FIA e os pilotos, e aconteça a greve defendida por Vettel, a represália não será a primeira na história da categoria. As greves também fazem parte da história da F-1, portanto vale à pena recordá-las:

GP da Espanha, em 10 de junho de 1980, foi uma corrida em que as equipes de fábrica – Ferrari, Alfa Romeo e Renault – não largaram, embora estivessem presentes no autódromo de Jarama, em Madri.

O motivo foi uma disputa pelos dólares dos direitos de televisão cobrados pela Associação dos Construtores dos organizadores dos grandes prêmios e dos quais Jean-Marie Ballestre, então presidente da FIA, achava ter direito a uma fatia.

As equipes de fábrica apoiaram o cartola, que, sentindo-se fortalecido, retirou seus comissários da pista e decretou a corrida uma disputa pirata.

Aí o Real Automóvel Clube da Espanha apelou para a força e exigiu: ou se realizava a prova ou todos os carros seriam confiscados. O grande prêmio largou, mas sem Ferrari, Renault e Alfa, e terminou com vitória de Alan Jones, pilotando um Williams-Ford. A corrida, contudo, foi descartada do campeonato.

Nos GPs da África do Sul, de 1981 e 1982, aconteceram outras duas greves.

A primeira foi outro cabo-de-guerra entre a FIA e os construtores, ainda por pendenga financeiras. Dessa vez, Ferrari, Renault, Alfa Romeo e Ligier-Talbot, equipes oficiais das montadoras, nem foram a Johannesburgo.

Williams, Brabham, Lotus, Tyrrell, McLaren, March, Arrows e Fittipaldi, escuderias independentes, realizaram a corrida vencida por Carlos Reutemann, de Williams, que tampouco foi homologada para o campeonato daquela temporada.

Em Kyalami na África do Sul, em 23 de janeiro de 1982, aconteceu a terceira greve da história da F-1 e a primeira deflagrada pelos pilotos. Liderados por Niki Lauda, eles se negaram a correr se Balestre – sempre ele – insistisse em cobrar a multa de 2000 dólares dos pilotos, punindo-os por não comparecerem a uma reunião do comitê de segurança. Uma nova célula que o cartolão instituiu arbitrariamente na F-1, e ainda desobrigou os organizadores das provas de segurar os pilotos contra os acidentes de corrida.

Os promotores sul-africanos seguiram o exemplo dos espanhóis e ameaçaram os construtores de confisco dos carros, ou com o pagamento de 3 milhões de dólares de multa, por cada monoposto inscrito, previstos em contrato, se a corrida não acontecesse. Logicamente, a corda rebentou no lado mais fraco, e os pilotos foram obrigados pelos patrões a entrarem na pista.

Alain Prost, com o Renault Turbo, venceu a prova, mas, juntamente com os outros 26 pilotos grevistas, teve a matrícula suspensa por Balestre. Depois o cartola recuou, porque os organizadores dos outros grandes prêmios do calendário ameaçaram cancelar suas corridas se os pilotos grevistas não fossem inscritos.

No GP da Espanha de 1975, foi Emerson Fittipaldi quem fez greve. Ele se recusou a competir alegando falta de segurança no circuito de Montjuich. Forçado a largar, o brasileiro deu apenas uma volta e encostou o seu McLaren M23. O Rato tinha razão, pois a corrida foi encerrada na 29ª das 75 voltas previstas, por causa de um acidente com o Lola-Ford de Rolf Stommelem, no qual morreram cinco espectadores.

Jochen Mass foi o vencedor, mas ele e os outros pilotos que pontuaram (só seis na época) receberam metade da pontuação e nunca mais houve corridas em Montjuich.

Texto: Lemyr Martins

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